domingo, 21 de setembro de 2008

Ser... sem acontecer?



Já tem um tempo, eu criei o ranking das melhores coisas que me ocorreram sem nunca terem acontecido.
Está se perguntando como isso é possível?
É simples, vou explicar o que me parece, e você há de concordar que também acontece contigo, mesmo que você não tenha tido a idéia de criar um ranking para isso.
Pois bem, me refiro justamente às idéias.
Platão concebia o mundo das idéias como o local onde todas as coisas tinham uma pré-existência, ou seja, onde tudo aquilo que existe ou existirá no mundo, que concebemos como real, tem seu molde.
Seguindo esse raciocínio é possível que algo exista somente no plano ideológico e não exista materialmente, mas a recíproca não se aplica, eis que aquele é pressuposto desse.
Sendo assim, admitindo como verdadeira a asserção de Platão, posso afirmar que se eu imaginar alguma coisa, essa tal coisa já possui uma existência, ao menos no mundo das idéias.
Por isso penso que ao cogitar alguma coisa eu já dei existência a essa própria coisa. Se ela vai deixar de ser apenas idéia e se imiscuir na realidade palpável já é outra história...
Para atalhar, vou tentar estabelecer uma aplicação prática. Vejamos:
Muitos catedráticos defendem que não se ama uma pessoa, mas sim a projeção que dela se faz.
Ora, ao meu ver, isso nada mais é do que a demonstração dessa idéia. Advém como desdobramento lógico do amor platônico.
Sabe quando você programa um encontro amoroso e, antecipadamente, trava diálogos imaginários, tentando antecipar tudo aquilo que ocorrerá no momento do dito encontro?
Bem, partindo da premissa de que você também tenha esse tipo de devaneio, creio que havemos de convir que esse pensamento, essa idéia do que poderá vir a ser, proporciona um grande prazer. Muitas vezes esse prazer é até maior do que aquele auferido com o encontro no mundo material, isso se esse tal encontro concreto realmente acontecer.
Por isso criei meu ranking, pois sei que já me ocorreram mais maravilhas que as que me aconteceram; já senti coisas mais extraordinárias que as que vivi; já fui muito mais do que serei, sem jamais ter sido...
É, desenho aqui um nó nos caprichos imaginários alinhavados até o momento. Creio que muitas vezes as palavras nunca bastem para explicar aquilo que precisa ser mais sentido do que compreendido.
Mas atente para um aspecto relevante: não pense que, quando levo a efeito tais conjecturas, me iludo com as idéias como se elas tivessem acontecido concretamente. Não, apenas não vejo como indispensável sua complementação material.
Parece loucura, mas não é. Também não é conformismo dos derrotados.
É apenas a contemplação da coexistência das possibilidades.
Enquanto isso, o desfrute da incansável busca por tentar saber como seria aquilo que nunca foi é um sublime deleite....

E se eu fosse idéia?
Seria lampejo de luz...
Fagulha ao vento...
Gota de orvalho...
Um acre de trigo!!

Sentiu?