sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Dia-a-dia


Terça-feira é dia de resolver os problemas.

Quarta, de saber o que quero (o que deveria ser todo dia).
Assim, todo dia deveria ser quarta,
Nem terça, nem quinta.

Mas se os dias não são terças, são quartas, eu apenas sei o que quero, mas nada resolvo, pois os dias são quartas.

E se são quartas, também não são quintas, o que de nada me adianta, pois o que me aproveita saber o que quero se não resolvo coisa alguma?
E pior, não sei o que fiz com o que quero na quinta.

Bom, mas pelo menos sei que quero.

Quero saber o que quero
Não quero o nada, nem quero o tudo
Talvez, tudo de nada e nada de tudo

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Será que vale a pena?


Será que vale a pena? Quantas vezes eu já me fiz essa pergunta... com certeza a faço e refaço várias vezes ao dia... ‘Será que vale a pena?’

Um dia alguém já disse que a vida é feita de escolhas, eu digo que nem sempre as escolhas são simples, nem sempre o caminho é clarividente... nem sempre a opção é entre algo bom e um fardo ruim, acredito que na maioria das vezes não é.... mesmo porque haveria a tendência lógica e natural de optarmos inopinadamente, sem qualquer dúvida, pelo que nos é bom, de bom grado!

Assim, no mais das vezes, pelo que consigo vislumbrar, as escolhas pairam no limbo existente entre algo bom e outra coisa melhor ainda... você se contenta com o que tem? Mesmo que não seja pouco? Pagaria o preço para ser melhor ainda, mesmo se for caro, vale a pena?

Outrossim, em outras tantas vezes nos vemos obrigados a escolher entre o ruim e o péssimo, mas mesmo nessas situações ainda somos tentados a escolher o martírio do pior caminho se nele vislumbrarmos um fio de esperança a mais que na vereda do ‘ruinzinho’ e então nos perguntamos: ‘será que vale a pena?’

Já pude perceber que a resposta a essa pergunta depende de uma série de fatores, mas, principalmente, da dita pena.

Explico. Nesse sopesamento, com certeza existe algo que, aqui genericamente denominarei de ‘bens’, mesmo que não os sejam, ou por serem males, ou por serem imateriais, sem embargo, é só uma nomenclatura genérica.

Pois bem, como dizia eu, nesse sopesamento, existem bens em posições antagônicas sendo que, necessariamente, deveremos optar por apenas um deles e é nisso que consiste a pena, optar é penoso, e depois de optar vem o caminho a ser trilhado...

Sem contar que, pra piorar a situação, tudo na vida guarda intrínseca relação com o binômio tempo e espaço, o que é bom, o que é ruim, o que vale a pena naquele momento, naquele lugar?

Afinal, o que vale a pena?

Já aprendi uma coisa, mas não consigo pôr em prática, quem souber me ensine, que é não trocar sono por ansiedade. Que troca mais inútil! Já aviso de antemão: não vale a pena! Mas quem não sabe disso, não é?
Liberdade! Isso não se troca, troca? Ah, ela é que se troca. Vamos ver, trocamos a liberdade pelo amor! Certo? Humm, mas o amor aprisiona? Acredito que não. O que aprisiona é a mesquinhez, a desconfiança, o orgulho, mas o amor? O amor não! Apenas não confundamos liberdade com libertinagem.

Então, também costumamos trocar liberdade por privacidade, mas vale a pena? Por timidez, vale a pena? Por uma boa imagem, vale a pena?

E o amor? Já o trocou por desilusão? Já? Duvido muito, sabe por quê? Porque essa troca não foi você quem fez, ela lhe foi enfiada goela abaixo como um engodo, com grande dificuldade você a engoliu, mas valeu a pena! Não valeu? Valeu sim!

Seu tempo. O que você troca por ele? Muitas vezes eu pago caro para conseguir algum e o troco por bobeira, depois me culpo por isso...

A Culpa! Ahh, você já trocou seu sossego por ela? Tranqüilidade também? Valeu a pena?

Já que estamos por aqui mesmo, o que você já trocou por remorso?

Puxa vida, alguns desses tais bens parece que têm trânsito forçado, se autopermutam, mesmo que nós não queiramos fazer a troca...

O que fazer então? Eu só sei de uma coisa eficaz, que é evitar ir até o local onde se troca esse tipo de ‘bem’, uma vez lá: babau! Dá uma vontade de escrever um ‘fudeu’, mas isso não pode, ‘olha a boa imagem pública indo pro beleléu’, ou é pra pqp? Não sei se é o mesmo lugar, nunca consultei a cartografia mais autorizada sobre o assunto.

Com certeza você há de ter aí dentro de si, bem guardado, algum bem que você não permuta, nem o deixa transigir com nada, certo? Eu tenho, é a minha dignidade, o que para mim chega a ser uma metonímia, não no sentido de mínimo existencial, mas sim na acepção metafísica de tudo aquilo que dignifica o homem, tal como a moral, a ética, a lealdade, a justiça, o caráter...

Felizes os que não foram compelidos a transigir naquilo que mais prezam em si!

Seja como for, a escolha é sempre uma tarefa árdua e pode vir a trocar nossa felicidade por arrependimento.

Tenho que confessar que uma boa técnica é se aconselhar, mas não costumo seguir o pensamento alheio, nem mesmo quando me pergunto: ‘será que vale a pena?’

Pois é, eu estou me perguntando mais uma vez, será?

Grandes Obras


Não escreveste nenhum livro,
Mas plantaste!

E um dia, quem sabe, sua árvore vire papel e dele se faça livro.

Não escreveste, mas, diga lá, participaste!

quarta-feira, 20 de agosto de 2008



Sumiu, voou...

Voou? Como?

Como borboleta

Mas borboleta voa? Ou flutua?

Sim! Voa e flutua
Voa a cada alvorecer pelos jardins
E flutua em nossas mentes, feito um sonho de rota incerta.

Vida boa essa de borboleta
Que voa, flutua!
E de quebra ainda tem a atenção de todos,
A minha e a tua.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Réquiem



Foi um cara que não era muito...

Nem muito rico
Nem muito pobre
Nem muito sovina
Nem muito nobre

Nem muito alto
Nem muito baixo
Nem muito gordo
Nem muito magro

Não era muito
Nem era pouco
Não era são
Nem era louco

Comia muito
Falava pouco
Não era magro
Mas era rouco

Fazia muito
E nem se via
Qualquer cansaço
Ou nostalgia

Lembrava de nada
Esquecia de tudo
Passageiro eterno
Cidadão do mundo

Amou demais
O amaram pouco
Na solidão
Formou-se douto

Não era assim
Nem era assado
Não era do meio
E nem do lado

Não era Dante
Nem era Fausto
Nem Mussolini
Nem holocausto

Nos fractais
Achou o caminho
Nem multidão
E nem sozinho

Andou no céu
Voou na terra
Odiou na paz
Amou na guerra.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O Pensamento...



O que é bom no pensamento é que ele não precisa se ater ao contexto que nos envolve, tudo aquilo que nos limita.
Agora mesmo estava eu me deliciando com as maravilhas propiciadas pela transcendência metafísica do livre pensamento.
É, detesto rótulos, mas às vezes, sem qualquer veleidade, gosto de me ver como um livre pensador.
Mas que diabos é isso? Quer saber? É algo instável, assim como tudo que envolve o radical ‘livre’, mas que, como os próprios ‘radicais livres’, tem um ‘quê’ de pharmakon, yin e yang, cicuta e seu antídoto, num mesmo espaço e tempo, em doses diferentes. Contudo, o ‘radical livre’ está sempre receptivo, sempre aberto a novos incrementos e, de certo modo, podemos dizer que está sempre disposto a compartilhar as benesses desta liberdade (que pode aprisionar).
Nem se venha dizer que livre não é radical; tem de ser muito radical para ser livre!
Pois bem, dizia eu sobre o pensamento que, bonito ou não, é livre, é de cada um e ninguém tasca!
Que chato seria se não fôssemos dotados dessa capacidade abstrativa, às vezes inventiva, às vezes ilusória, mas nem por isso menos válida (louvável até, diria eu). É justamente graças ao livre pensamento que eu consigo imaginar tal possibilidade estapafúrdia.
Num mundo tão incisivo como o de hoje, muitas vezes o único lugar onde podemos gozar da tão preciosa privacidade não é outro senão entre nossos ouvidos e atrás de nossos olhos.
Neste lugar tudo é possível! Lá todos fazem de si o que bem entendem...
Muitos se tornam altruístas, compreensivos, filantropos; outros voltam aos tempos de Roma, tornam-se austeros e se imaginam com o epíteto de, digamos, ‘o impiedoso’, mas esses estão por fora, compõem a minoria.

Mas um dia me disseram que ser minoria é bom. Daí fiquei pensando, pensando, pensando.... e pensei: ‘não é que tem seu fundo de verdade’?!
Bom preciso esquematizar, senão perco o pensamento: 1º Ser igual a todo mundo é terrível. Quero distância dessa mornidão que reside nas coisas comuns, essa leniência que impera na mediocridade, não no sentido pejorativo, logicamente, mas como expressão de tudo aquilo que é dotado de placidez mediana, que não surpreende, do que é (Deus me livre!) ordinário. De ordinário só gosto do 1º.
Sabe, até mesmo os ventos no meridiano que corta o plano equatorial são os mais brandos. Velejar lá? Impossível.
Pois bem, o legal é justamente ser diferente, todos nós gostamos de nos sentir especial e, com certeza, nascemos com todas as ‘armas’ para sermos, pois, por incrível que pareça, já somos. Só nos falta a consciência disso. Não é questão de competição, ninguém tem que buscar ser mais especial. É como nosso pretérito impossível, opa, pretérito-mais-que-perfeito. Isso existe? Ou é perfeito ou não é, e ponto final, ou “.”, não sei...
Então... deixe-me ver... recapitulando: é ruim ser comum; é legal ser especial, todos são especiais, então ninguém é comum porque são todos especiais, mas se são todos especiais, todos têm isso em comum... Vixe, ou eu aprendi errado ou essa tal de maiêutica socrática não leva a nada. Mas parecia tão fácil nos relatos de Platão... minha cabeça está um rolo... pra que eu fui faltar à aula de desatar nós no pré?
Acho que é porque meu córtex pré-frontal sucumbiu perante o meu sistema límbico; eu não conhecia a tal da gratificação postergada. Trocando em miúdos, meu ID sempre foi levado pra caramba, não se contenta com pulsões, levanta verdadeiros motins!
Mas, et voilà! Vamos à solução.
Todos são especiais, nisso somos todos comuns, mas a especialidade ou as especialidades de cada indivíduo são fatores determinantes, pois o diferem da maioria.
Porém, muitos abrem mão de suas especialidades, de seus fatores determinantes, e formam grupos que, num primeiro momento, refletem os vários valores especiais, mas que com o tempo externam uma fúnebre interpretação do ser social, tornam-se lugar comum, holocausto da especialidade.
Há o esquecimento da beleza da diferença, do deslumbre do incomum. Aos poucos criam-se, aos montes, comunidades tolhidas pela ideologia do comum, que muitas vezes defendem a valorização das individualidades, mas sempre trazendo como bandeira, como valor supremo, o que a eles é comum.
Agora estou em dúvida, é isso possível? Sei não.
Mas que é engraçado é. As minorias especiais aglomeram-se em comunidades, suprimem as múltiplas especialidades e se tornam maiorias, o que as torna comuns, para defender as especialidades individuais que não mais possuem. Coisa estranha essa tal democracia!
No fim das contas, os comuns acabam por defender ‘premissas comuns’, com as quais nenhum deles se identifica mais, pois não se lhe transluz nessas premissas comuns a expressão de sua já extinta especialidade e, não raro, sua jovialidade, seu ‘libertas que sera tamen’, seu ‘hay que endurecer’, seu imperativo categórico, sua ideologia de vida.

É por isso que o diferente é o belo. O diferente sabe que é diferente porque existe o comum, se não fosse o comum, todo mundo seria diferente, o que os tornaria comuns, fazendo deles maioria... Ih, de novo não! Desta vez não vou deixar meu pensamento me enrolar. Chega!

N. 2: Ufa! A propósito, já disse que de ordinário só gosto do 1º? Deixa pra lá...
Número Dois: Eu falava da minoria, para isso tive que falar primeiramente da maioria, pois este ainda é um texto democrático. Nem me venham falar de eqüidade, ou que a democracia é a tirania da maioria, é tudo uma questão de ponto de vista.
Posso tratar da maioria primeiro por julgá-la mais importante, ou então, partindo de outro enfoque, posso ver a maioria como assunto introdutório menos importante, uma espécie de degrau para o número 2. Puxa, como estou divagando. É normal o som de tantas vozes no pensamento? Algumas me parecem, até, que estão com o dedo em riste... punho cerrado... polegar abaixado...

Então, onde é que eu estava mesmo? Ah, na minoria.
Então, o legal da minoria é que aparenta ser o sonho de consumo da maioria. Os comunistas que me desculpem, mas isso ocorre até mesmo nessa utopia que vocês pregam.

Por outro lado, já me falaram que nem sempre ser minoria é bom, como é o caso dos analfabetos. Pois é, nem sei se eles são minoria mais, têm como companheiro até o presidente. É, por aqui a coisa anda mal.
Mas e na China, o país da maioria está melhor? Você queria viver na China? Não?
Já sei, lá o problema é a minoria que impõe um regime social desumano à maioria.
Mas a metade dos habitantes do planeta não consegue fazer nada contra essa minoria?

Muito bem, me sinto completamente à vontade para mudar o foco do texto porque, na verdade, esse texto não tem foco; é sobre pensamento e ele, o pensamento, é ilimitado; é dinâmico. Acredito que pensamos em mais coisas do que imaginamos; não se esqueça do limiar do inconsciente.

Pois então, ia eu dizendo sobre mudança de foco, o que não existe nesse texto, eis que ele não tem foco, portanto, posso falar do que vier à mente. Sendo assim, nesse momento peço vênia para invocar as sábias palavras do saudoso professor Vasconcelos Noronha que, em ensaio genial batizado de ‘O Sonho da Mariposa’, disse:

‘No plano filosófico, se fizermos uma afirmativa geral absoluta, embora pareça paradoxal, necessariamente devemos aceitar a recíproca, isto é, uma negativa geral e absoluta correspondente. Se dissermos que todos são senhores, logicamente ninguém será senhor.’

Com isso, que acredito dar total sentido ao que escrevi, ou acaba por retirar por completo qualquer possibilidade de inteligência do texto, dou por obstado o escrito, mas continuarei a pensar...